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Doação de órgãos: oferta versus demanda. Como equilibrar esta equação?

Um dos maiores avanços da medicina no século passado foi o transplante de órgãos, que especificamente no Brasil, segundo a Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos, tem atualmente um expressivo índice maior que 80% de sucesso.

De modo geral, temos no mundo uma demanda que vai bem além da oferta de órgãos para doação, ou seja, por um lado temos filas e mais filas de pacientes aguardando sua vez por um transplante e por outro faltam órgãos disponíveis para suprir esta demanda. De qualquer modo, já é algum “lucro” para a humanidade visto que até algumas décadas atrás isso nem mesmo era possível. Mas com os avanços, a ideia é melhorar o equilíbrio desta equação e a pergunta é: como fazer isso?

Em alguns países, o cidadão já nasce constitucionalmente como doador e poderá mudar esse status desde que manifeste conscientemente a sua vontade perante o Estado. Caso essa regra se tornasse constitucional para maioria dos países, é certo que, por indução, teríamos um aumento considerável da oferta de órgãos.

Em outros casos, existe a polêmica doação compulsória de órgãos de prisioneiros condenados à morte como uma medida para incrementar a oferta de órgãos e tecidos a serem doados.

E há ainda quem defenda a comercialização de órgãos, como o economista Gary Becker [Prêmio Nobel] que em estudo aponta que essa seria a solução definitiva para o problema. Como prova desse argumento, o Irã [país onde a venda de órgãos é permitida] é líder mundial em “doações” de rim. Mas vale deixar registrado também que 79% dos iranianos que venderam um de seus rins lamentam e se arrependem da decisão. Particularmente, por vários motivos, vejo essa como a pior opção, até mesmo como a criação de outros grandes problemas.

Bom, independente de qual seja a alternativa mais adequada dentre as citadas acima ou se a utilização de todas elas juntas, enfim, podemos observar que são alternativas estritamente reparadoras da saúde pública de modo geral, ou seja, corretivas. Fazendo uma pequena alusão à engenharia de manutenção de máquinas e equipamentos nas indústrias, sabe-se que esta é a pior alternativa, sobretudo, para maquinário com grande valor agregado. Acredito que o raciocínio se aplica à saúde humana também.

Nesse caso, estamos abrindo mão do que é mais importante: deixando de atacar as causas para atacar os efeitos. O que me leva a pensar que nada disso é de graça.. é claro que tem gente lucrando muito com isso. O que vocês acham? Façamos uma reflexão… primeiro as indústrias de cigarro, bebidas alcóolicas, os “fast-foods” com sua grande contribuição de gordura e colesterol à dieta dos seus consumidores, enfim, toda a indústria do “não-saudável”. Depois a indústria farmacêutica por motivos óbvios e, para não se estender muito, o governo pelos impostos que arrecada dessas indústrias. Só para se ter uma pequena noção.. em 2008 o Brasil desembolsou R$ 109 bi [nas três esferas do governo] com toda a saúde do país. Por outro lado, só a Souza Cruz [indústria brasileira de tabaco] alega um pagamento de R$ 5,5 bi /ano de impostos aos cofres públicos do país. Consideremos então o quanto de impostos o governo arrecada de toda a indústria do “não-saudável”. Claro que não dá para fazer uma conta de padaria aqui e determinar se há um lucro real [em termos financeiros e econômicos] para estas partes. Mas dá para enxergar quem fica com o prejuízo: a própria população que perde a saúde. A qualidade da alimentação tem sido apontada como um grande problema nas últimas décadas, ocasionando um incremento exponencial à fila de espera por um coração “novo”. Assim como o cigarro e os exageros com as bebidas alcóolicas tem aumentado as filas de espera tanto por corações quanto por pulmões e fígados “novos”.

Enfim, se cada um cuidar melhor da sua própria saúde [abrir mão do corretivo para aderir ao preventivo], teremos um decréscimo considerável da demanda de órgãos e assim essa demanda poderá ser atendida pela oferta ocorrente, de modo que a fila [caso exista] será na maior parte dos casos, proveniente de distúrbios fisiológicos ou de ordem natual.

PS1: Não sou um fissurado por hábitos saudáveis nem costumo ser radical [quando se trata de cigarro sou radical], mas concordo com o ditado “a diferença entre o remédio e o veneno é o tamanho da dose”. No fundo sabemos o que é saudável e o que não é saudável à nossa saúde.. inclusive as quantidades. Basta ter um pouco de consciência e fica tudo bem =]

PS2: Não sou da área de saúde! Escrevi esse texto apenas como um curioso.. algo para se refletir.

Abraços!!